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ESPECIAL 19 DE ABRIL
A ‘in’visibilidade dos povos indígenas e a Universidade Federal de Sergipe
Data de Publicação: 19/04/2023
Você conhece algum aluno, servidor ou prestador de serviço dentro da UFS que seja indígena?
No mês de atenção à visibilidade dos povos indígenas a equipe do SINTUFS se propôs a dar uma sondada no Campus de Sâo Cristóvão em busca dessas pessoas e, se você acha que foi difícil encontrá-los, realmente foi!
Em nossa busca nos deparamos com alguns contatos e descobrimos a rede do Coletivo José Apolonio @coletivojoseapolonio, que tem o intuito de reunir estudantes indígenas e quilombolas da UFS.
Ao conversarmos com alguns alunos indígenas, encontramos uma situação que até se imagina existir, mas que apesar de parecer estar distante de nós, está ao nosso lado. Como referiu uma das alunas, quando se pensa nessa população e se acompanha as notícias da grande mídia, passasse-se a crer que essas comunidades só habitam o Norte e Centroeste do País e não nos damos conta que aqui pertinho, nas redondezas de SE, AL e BA existem tribos indígenas.
Em nossa roda de conversa, que ocorreu embaixo das árvores da Praça da Democracia (não poderia ter sido mais sui generis), ouvimos os depoimentos dessas pessoas e conhecemos uma fração dos seus enfrentamentos diários, passamos a compreender que eles têm necessidades específicas e o óbvio, mas que nunca paramos para observar é que cada tribo tem suas características e peculiaridades.
Ouvimos relatos de situações absurdas, como a questão do estereótipo do “índio” impregnado no imaginário coletivo brasileiro. Como se não bastasse fazer parte de um grupo que passa por vários percalços sociais, que enfrenta a desvantagens de uma sociedade racista e sexista, ainda tem que preencher os padrões que alguns sujeitos se acham no direito de determinar?
A indígena Renatha Xokó, estudante do 4° Período de Serviço Social, enfatiza o quanto é desgastante ter que provar a todo instante que é uma Xokó. Segundo ela, algumas pessoas chegam a afirmar que ela não possui traços tão indígenas. Situação semelhante também é vivida e relatada por Ana Luiza Xokó, aluna de Fonoaudiologia. Ana Luiza ainda complementa afirmando ser assustador para sociedade acadêmica conviver com pessoas de origem indígena. Para ela existe a falta de conhecimento e empatia no meio universitário, onde as pessoas olham para os indígenas como “selvagens que moram na mata” e que não teriam os mesmos direitos de fazer uso de todo conforto cultural, científico e tecnológico vivido pelos universitários nascidos em cidades. Ao que parece, tais pessoas refletem o que está no seu interior, mas que não conseguem esconder por muito tempo, o preconceito estrutural/racial, preconceito similar ao imposto às pessoas pretas.
Naihara Pankararu, estudante do 10° período de Serviço Social, enfatiza que o dia 19 de abril tem importância histórica no sentido de chamar a atenção da população em geral para as lutas dos povos indígenas. Apesar disso, ela esclarece que todos os dias são dias de enfretamento por parte das comunidades indígenas, que cada grupo indígena enfrenta lutas diferentes que vão desde acesso à saúde, educação, subsistência até a proteção das suas terras invadidas por aproveitadores.
Voltando o olhar ao espaço no Campus, ela relata que são poucos os incentivos e fomentos que apoiam à comunidade indígena na Universidade e que, além disso, os caminhos de acesso são extremamente burocráticos.
Outro aspecto para o qual ela chama atenção é sobre a dificuldade de acesso às informações no Campus. Naihara acredita que essa situação poderia ser dirimida caso houvesse uma integração e direcionamento dos alunos indígenas, se houvesse espaços de comunicação entre eles e a Universidade, onde se pudesse haver uma construção conjunta de políticas internas voltadas às suas necessidades. Outro aspecto abordado foi a possibilidade de serem ofertadas disciplinas curriculares que abordassem a cultura, trajetória e as leis direcionadas aos povos indígenas no Brasil, no intuito de promover maior visibilidade e assim trazer à sociedade discussões que são urgentes a esses povos. Por fim, ela acrescenta que poderia haver um olhar mais apurado dos pesquisadores da Universidade no sentido de desenvolver projetos de extensão junto a essas comunidades, pois dessa forma haveria benefícios importantes para as partes envolvidas. Ana Luiza Xokó atenta para a necessidade de discussão com a sociedade de civil de momentos que levantem a discussão sobre etnia, diversidade e miscigenação.
As demandas são muitas, o enfretamento é constante e a força dos povos indígenas é hercúleo. Essa população necessita urgentemente ser enxergada, suas necessidades precisam ser acolhidas, estratégias de reparo a todos os danos que sua cultura sofreu e continua sofrendo precisam ser postas em prática. Que a Universidade, como berço histórico de lutas sociais e de mudança social, possa participar ativamente desse processo.
Agradecemos a disponibilidade de João Victor Pankararu que nos auxiliou no direcionamento dos principais pontos a serem abordados nesse artigo e as alunas Naihara Pankararu, Renatha Xokó e Ana Luiza Xokó que contribuíam com seus depoimentos.